Olá Tiago,
Antes de mais tenho de te dar os parabéns pela escolha, o 127 é um excelente primeiro clássico, porque apesar de simples na sua essência, é um carrinho muito divertido de conduzir.
Respondendo mais pormenorizadamente às tuas perguntas:
- O motor é muitíssimo fiável, pois foi concebido para suportar os piores castigos que os italianos pudessem imaginar (e nós também... eu já fiz o meu passar horas a fio na autoestrada aos berros, sem qualquer queixa - se os ouvidos aguentam, o motor também
). Para ter a certeza que se mantém assim, basta fazer a manutenção a tempo e horas (o manual diz para trocar o óleo cada 10,000 km, eu recomendo no máximo 7,500 e trocar o filtro vez sim vez não) e trocar o anticongelante anualmente. Importante é certificares-te que o motor é Fiat e não Seat, pois os blocos Seat (montados maioritariamente a partir de fins de 77) são muito menos robustos. E isto não se resume aos blocos, as caixas de velocidades vão pela mesma linha.
- Em termos de uso diário, o 127 é a minha recomendação pessoal como clássico ideal, porque tem consumos baixos, é muito fiável e simples de manter, e as peças ainda se arranjam com muitíssima facilidade (o motor andou anos e anos nos Pandas, Unos e Cinquecentos e afins) e a bons preços. Não há muitas maneiras de nos deslocarmos mais baratas que um 127!
- Em termos de segurança, o 127 é dos melhores da sua época. Nesta altura a Fiat já fazia pesquisa sobre carroçarias com zonas de deformação programada (um programa estreado com o antecessor 128), e tinha já muitos pormenores perfeitamente modernos como as colunas de direcção articuladas que recolhem com o impacto (basta ver que até as 4L mantiveram até ao fim da produção já na década de 80 uma coluna rígida, o que garante uma experiência dolorosa em caso de impacto frontal). A segurança activa passa por um excelente chassis com suspensão independente às 4 rodas e um comportamento excelente em estrada. Aqui para melhorar a estabilidade e travagem, posso recomendar a montagem de umas jantes de liga com pneus 155/70 R13 (e não mais que isto, senão começa a perder qualidades, e esta medida ainda é fácil de arranjar e baratíssima).
- Se o motor aquece, é sinal que foi mal cuidado. Os motores Fiat exigem mudanças anuais de anticongelante devido à protecção anti-corrosiva que este oferece. Se se deixa degenerar a qualidade dele, vai haver um fenómeno chamado de corrosão electrolítica devido ao contacto de dois metais diferentes (a cabeça é de alumínio e o bloco de ferro), e quem vai sofrer é o sistema de arrefecimento que fica cheio de detritos de alumínio oxidado e mais tarde será a junta da cabeça que queima. Qualquer carro que vás ver, abre a tampa do radiador (com o motor frio...) e vê a aparência do líquido, deve notar-se a côr (azul ou verde), se fôr castanho há muita ferrugem na água e é sinal de maus cuidados. Também podes verificar o aspecto do líquido no vaso de expansão (pequeno depósito suplementar de água ligado ao radiador, no 127 MkI fica no canto frontal direito (lado do pendura), e é ligeiramente arredondado.
- De resto é analisar a carroçaria. Locais comuns de problema são os cantos atrás do capot, na base do pilar do pára-brisas, que corroem de dentro para fora, porque eram mal protegidos de fábrica. Também é comum haver uma ligeira fractura de stress na base do pilar B (ou seja, junto à porta à frente das janelas laterais traseiras). De resto verificar embaladeiras, arcos de rodas e as zonas envolventes do pára-brisas e óculo traseiro. Trabalho de chapa é pior e muitas vezes sai mais caro que a mecânica.
- Falhas habituais na mecânica são os sincronizadores (nota-se um "arranhar" nas passagens de caixa, costuma falhar especialmente na segunda ou terceira), ou em motores mal tratados pode haver emissão de fumos devido a desgaste dos segmentos. Na trasmissão podem falhar as coroas de rolamentos no interior dos semi-eixos (difícil de perceber mas raramente problemático) ou as juntas homocinéticas, especialmente em carros com pneus mais largos, pois estas sofrem bastante em manobras de carro parado. O sinal de homocinéticas em mau estado é um baque surdo e repetitivo (tac tac tac) quando se arranca com o volante todo virado para um lado, ou ao descrever uma curva lenta com a direcção muito fechada para um dos lados.
No entanto, nenhum destes problemas é muito sério de resolver (mesmo que se tenha de trocar um órgão completo, ainda se arranja tudo a preços ridículos) e não implica grandes despesas, pode é servir como base de regateio.
Espero ter ajudado, se tiveres mais questões diz! Um abraço!