Estas foram as minhas segundas 500 milhas:
No ano passado fiz pela primeira vez as 500 Milhas, prova de resistência de características únicas em Portugal. Cheguei ao fim num 37º lugar, muito melhor que as expectativas iniciais. Os problemas de travões que tive levaram-me a corrigir o problema: substituição do óleo dos travões que já lá devia andar há uma vintena de anos !!!
A experiência do ano passado também me levou a preparar melhor a edição deste ano, com o arranjar de iluminação interior e um relógio digital com segundos, iluminado, de forma a poder fazer melhor as provas nocturnas (o ano passado foi à custa duma lanterna), tendo também arranjado um descansa pés para a minha navegadora.
A equipa foi a mesma do ano passado: a minha esposa como navegadora e o meu filho como passageiro, embora também ajudando na navegação cantando os segundos nas provas de regularidade absoluta, o SAAB 99 L absolutamente original, com os seus 88 cavalos (DIN) às 5000 rpm e eu próprio. Não me apercebi que houvesse outra equipe assim tão familiar.
No dia 29, pouco depois das 15 horas, fiz as verificações documentais e fui ao quilómetro de aferição, apenas para verificar que não valia a pena ajustar o Brantz (marcou 5007 metros nos 5000 metros da aferição) nem nos conta-quilómetros de bicicleta (marcaram entre 5,00 e 5,01 Km). Foi a altura de voltar para junto do Hotel Mercure, para afixar os números nas portas e pedir ao Manuel Alberto (portalista com apenas 1 post), ao António Castanheira (idem mas com pouco mais de 10 post) e ao Jorge Martins (idem mas sem qualquer post), todos membros da Direcção do CAAFF, para fazerem a verificação técnica do meu carro, tendo-se inclusive ponderado medir a água do radiador
Fui ficando a ver os outros concorrentes chegarem, esperado que a empresa de cronometragem trouxesse os transponders; quando finalmente os acabei de colocar, caiu a primeira chuvada do Rally, ao mesmo tempo que o Seara Cardoso chegava no seu Lancia Fulvia HF. Desafiei o Sinel Martins e fomos beber uma cerveja mesmo ao lado.
Às 18.30 houve o habitual breafing com os concorrentes e depois lá fomos para o Casino para o jantar. Tive a sorte de ficar numa mesa com o Emídio Lisboa e a esposa Gabriela, para além do Carlos e do Ricardo Seara Cardoso, próximo do João Torrado e do António Morais e da única equipa feminina, a São e a Márcia. Não houveram as habituais variedades, de forma a permitir uma ida mais cedo para a cama, o que não foi possível: já de Road Book na mão valia a pena fazer uma tabela para a última PEC, uma regularidade absoluta (aqui denominada PRE – Prova de Regularidade em Estrada, de forma a se diferenciar das PRF – Prova de Regularidade à Figura) com mudanças de média já identificadas no Road Book.
No dia 30, pelas 5 horas da manhã dum Sábado bem enevoado, o despertador fez-me levantar depois duma noite tão curta. Cerca das 5.40 já estava dentro do SAAB na Avenida 25 de Abril, altura de acertar os relógios pelo tempo oficial. Alguma conversa matinal, sobretudo com o Sinel, o Seara Cardoso e o Kramer, todos com números superiores ao meu. Às 6h04m o SAAB, com o número 604, iniciou as 500 milhas, em direcção a Coimbra pela Auto-Estrada, vendo o carro 603 fazer o primeiro erro de percurso 1850 metros após a partida ! Altura da navegadora fazer contas da hora de entrada nas 8 PECs da manhã, já que não haveria controlos horários. Chegada ao Luso com tempo para preparar a entrada na PEC 1, identificada no Regulamento e no Aditamento 1 como PRF mas que Road Book corrigiu para uma PRE. Foram 10 Km a olhar para os marcos da estrada e com o meu filho a cantar segundos … e a fazer tantos erros que deram 102 segundos (ou pontos) de penalização por atrasos de quase meio minuto em cada ponto de controlo. Não foi um início nada brilhante, começando no 41º lugar da geral, com 73 concorrentes.
Continuamos em direcção ao Caramulo mas, cerca de 15 Km antes, tivemos a PEC 2, esta sim uma PRF, com mais de 12 Km. Se para nós correu bem melhor (32 pontos, subida para o 29º lugar da Geral), o Parcídio Cabral, vencedor de 2010, não ganhou para o susto, com uma árvore cortada mesmo à sua frente e fazendo-o perder muitos pontos. Depois do controlo de passagem mesmo à frente do Museu do Caramulo, vamos para Águeda para fazer a classificativa do Préstimo, com mais de 10 Km. Com mais 32 pontos, subimos mais 7 lugares.
Depois do Controlo de Passagem de Sever do Vouga, uma armadilha do Road Book e muitos enganos (a que fomos alheios), passagem por estrada em obras e, já passava das 9h30, entramos na PEC 4, quase 7 Km a contar mecos e uma boa pontuação (10 pontos), permitindo chegar ao 17º lugar da geral, mesmo antes do Pequeno Almoço em Manhouce. A PEC 5 (na Serra da Freita) e a PEC 6 (em Alvarenga) não correram lá muito bem, com mais 36 e 15 pontos, mas houve quem tivesse piores resultados e lá subimos até ao 15º lugar, que iríamos manter até à PEC 12. Na PEC 7 tivemos uma das nossas melhores classificações (um total de 5 pontos em 4 locais de controle), Depois da PEC 8 recomeçou a chuva, com maior abundância em Lamego, onde houve mais um Controlo de Passagem e 75 Km de ligação com vistas soberbas sobre o Douro, altura do meu passageiro aproveitar para repor algum do sono em falta.
Chegada à Quinta da Pacheca com um almoço mais que desejado, com a sorte de ter a companhia do João Kramer. Só nessa altura conheci as minhas classificações, ficando espantando por ter tanta gente atrás de mim. Mas a Prova ainda estava a meio e a chuva cada vez ameaçava mais.
Cerca de 15 Km após o almoço era altura de meter gasolina (98 de acordo com o manual de instruções do SAA
: já tinha gasto 43 litros para fazer 402 Km numa média de 10,7 L/100 Km, para um motor de 1850 cc com 80.000 Km. Regressei à estrada atrás do Tiago Gouveia num Lótus Europa, tentando acompanhá-lo numa ligação de 80 Km até depois de Aguiar da Beira, onde nos esperava a PEC 9. Mais 21 pontos e a PEC 10 estava logo 3 Km à frente, para penalizar 11 pontos, e mais 10 Km e já lá estava a PEC 11, onde devia haver empedrado e não havia, e mais 12 pontos.
Finalmente ia dar para respirar, pois a PEC 12 era só daí a 24 Km mas a Figura 115 do Road Book foi fatal: deu direito a erro no percurso, descobrir o erro e voltar para trás, ter o 605 já à nossa frente (e o 606, o Sinel já lá longe) e … chuva torrencial em Gouveia. A PEC 12 é pouco depois do controlo de Passagem de Gouveia, era preciso ultrapassar o 605 antes deste controlo, mas a chuva, com 50 cm de altura de água a certa altura, não ajudou e controlamos depois, chegamos à PEC já com mais de 30 segundos de atraso. Felizmente o primeiro ponto de controlo era 1900 metros mais à frente e chegamos lá só com 15 segundos de atraso. A subida para a Cabeça do Velho rendeu-nos mais 24 pontos e a descida para o 16º lugar. Depois só faltava o nevoeiro para chegar ao Lanche, já quase em Seia.
Depois do Lanche, tivemos de fazer um pequeno desvio em direcção à Senhora do Desterro, de má memória no ano passado, para, a caminho de Loriga, fazermos os 2 Km da PEC 13 (apenas 4 pontos nos 5 locais de controle, com subida ao 14º lugar), seguida da PEC 14 em que tivemos de fazer médias de … 18 Km/h (bem-vindo conta km de bicicleta). No final da PEC apanhamos o carro 603, que nos atrasou, razão de termos 4 segundos no final da PEC (o 603 teve os correspondentes 63 segundos), mas sem justificar os 4 e 7 segundos de avanço nos 2 controles anteriores: a média de 18 Km/h acabou por baralhar um pouco, sobretudo por não ter sido identificada antes do início da PEC – convém ler mesmo bem o Road Book antes de cada PEC.
Seguiu-se uma ligação bem apertada de cumprir até à Ponte das Três Entradas, onde chegamos apenas alguns segundos antes do tempo. E mais valia termos entrado logo pois tratava-se duma subida íngreme com ganchos apertados. Raramente conseguia que o SAAB chegasse aos 40 Km/h, pelo que a média exigida (de 40 KM/h) não foi alcançada, atrasando logo 12 segundos na primeira figura (onde devia chegar 13 segundos depois da partida, demorei 25 segundos) e 21 segundos na segunda figura (os 42 segundos ideais foram … 63 segundos), sempre penalizando até um total de 112 pontos. E só não foram mais porque apenas havia 5 locais de controlo. Apesar de tudo, mantivemos o 14º lugar.
A PEC 16 ficava a 65 Km, com passagem pelo IC6, pelo que chegamos à última PEC com muito tempo de antecedência, parando ao lado do Sinel Martins. Pensávamos nós que eram 20 minutos. Aproveitei para telefonar ao Francisco Lemos Ferreira, que me tinha tentado contactar antes, e … o Sinel disse-me que estava na hora de eu partir. Corro para o carro, verificamos o horário e os 20 minutos afinal eram só 10. Já deveríamos ter desconfiado quando chegamos ao local e apenas estavam 3 carros parados ! Lá apanhamos mais 20 pontos, para perfazer um total de 475 – tinham sido 87 os controlos e apenas “zeramos” 10. Inesperadamente tínhamos subido um lugar pois o Luís Simões (no Mercedes nº 559) não fez esta PEC e passou de 348 pontos para … 4548 pontos, descendo para o 41º lugar.
Faltavam apenas mais 53 Km para chegarmos à Figueira da Foz cerca das 22.30, já com ar de zoombies, para sermos recebidos à porta do Casino por uma multidão entusiasta e em que o António Castanheira, o Jorge Martins e o António Morais fizeram gala de regar com champanhe, logo após a bandeirada final do João Torrado. A equipa tinha chegado ao fim destas segundas 500 milhas, mas ainda foi jantar no Palácio Sotto-Mayor, onde se relembraram algumas das aventuras e desventuras dos concorrentes.
No Domingo houve distribuição de prémios no Casino, em ambiente de franco convívio, com a promessa de voltarmos em 2012, mantendo este espírito de Rally em Família.