Mário, não me leves a mal, mas soa-me a que queres um GTI moderno "vestido" de clássico.
Andar de clássico significa em primeiro lugar que recusamos todos os facilitismos da modernidade, e aceitamos lidar com carros mais desconfortáveis, menos seguros, mais temperamentais (discutível, eu sei) que os actuais. Aceitamos tomar a responsabilidade nas nossas mãos em vez de ter um comité electrónico a limpar as nossas asneiras, não queremos ajudas.
Aplicar tamanho conjunto de alterações a um carro faz com que o descaracterizes por completo. Não me faz muita confusão porque um clássico popular como o Mini ou outro qualquer que existe aos milhares largos não é propriamente uma peça a tratar como sacrossanta, mas no meio disso tudo perde-se um bocado o encanto do "bicho".
Atenção que eu não sou propriamente apologista do "restauro ao parafuso", aliás, nem sequer apologista do restauro sou. Prefiro carros preservados, e não sou contra modificações, mas gosto mais daquelas que não alteram o carácter do carro.
Em relação às tuas ideias, deixa-me desde já dar umas sugestões.
Em primeiro lugar, escolhe bem o carro que queres. Se uma das prioridades é ter conforto, esquece o Mini... além da falta de espaço e da má posição de condução, é duro como tudo. Além do mais, não é propriamente versátil. Já consideraste por exemplo um Fiat 127? Consegue ter tanto ou mais desportivismo que o Mini, muito mais espaço interior, muito mais versatilidade, e continua a ser divertidíssimo de conduzir, com a vantagem de oferecer mais espaço, muito melhor posição de condução, e incomparável conforto. Não tens é o fetiche dos quinhentos catálogos a oferecer-te peças assim e assado para lhe pendurares em cima, mas com um pouco de pesquisa arranjas tudo o que quiseres também.
Segundo, e talvez a parte mais importante, conhece o carro que escolheres.
Familiariza-te com ele, e põe o carro em forma antes de o começares a modificar. Já falei disso várias vezes, é um dos erros mais comuns. Muita gente acha o carro horrível porque conduziu um chasso velho e não o carro em forma. Se eu me tivesse deixado levar pela condução do meu 127 quando fiquei com ele, a esta hora a minha vida era muito diferente... mas quando pus tudo no lugar, fiquei deliciado e viciado. Não é preciso ter seiscentos cavalos, nem trinta extras, um clássico encanta-te mesmo todo de origem. E não são precisas jantes com pneus 205, um radial moderno dos mais reles agarra mais do que o melhor pneu da época em que o carro era novo, por isso não é preciso exagerar, senão dás cabo do gozo.
Terceiro, se tiveres cumprido a segunda sugestão que te dei, já saberás melhor por onde agir, e planeias bem as modificações que queres. Sim, quatro trompetas de carburador têm um ar terrivelmente
sexy, mas no dia-a-dia passa-te logo a pica quando estiveres no trânsito com o carro aos soluços e a ir abaixo. Motores muito desenvolvidos para a
performance não gostam de comutas diárias. E não duram anos e anos a dar serviço desse, foram feitos para viver vidas curtas e espalhafatosas. Eu diria que a solução que tu procuras é um motor bem desenvolvido que produza um bom binário, e para isso não precisas de nenhum motor
stage isto ou aquilo, precisas de um motor de cilindrada razoável para o tamanho do carro, e mantê-lo bem afinadinho. Um Mini 1000 já tem motor que chega e sobra para as dimensões dele, e não fica mal visto no trânsito actual. Além disso, tem a vantagem de ser bastante económico, por isso talvez dispense o GPL, mas disso tu saberás melhor.
Quarto, num
daily driver a fiabilidade é o nome do jogo. Como referi antes, motores muito elaborados dão chatices e despesas numa base regular. O que precisas para o serviço diário é algo simples de manter, porque a manutenção de um clássico é mais exigente que a de um moderno, mas é por isso que eles ainda cá andam... se forem mantidos segundo o preceito de fábrica, têm pouco por onde falhar. Os nossos antepassados não eram parvos, e sabiam fazer carros. Hoje em dia não os deixam fazer assim por alguma razão, davam prejuízo às marcas... há que manter a malta a consumir. Mas num clássico, se mantiveres a manutenção em dia, tens pouco que te preocupar, e não vais ficar apeado facilmente. E não te preocupes que ele ensina-te mecânica na mesma, tens o melhor professor que pode haver, se lhe quiseres dar ouvidos.
De resto, tens sempre aqui quem te apoie se for preciso. Mas tem calma, pensa a coisa como deve ser, e relê o que eu escrevi as vezes que for preciso. Não quero indocrinar ninguém, mas se queres ser mais um "Zé do boné" há por aí muito Saxo e Corsa para modificar... se queres ser original, escolhe bem a tua máquina e deixa que ela te ensine como é o caminho. Eu consigo perceber o teu ponto de vista actual, porque já fui assim também, e perdi tempos e tempos a planear modificar isto e aquilo, até que percebi que não era preciso nada de tão radical... às vezes as melhores modificações até são bastante subtis.
Um abraço e desculpa o sermonete!