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Antes Francisco Lemos Ferreira
Uma gota de água em Le Mans
Desengane-se quem pense que, com apenas um motor de dois cilindros e menos de um litro de cilindrada, não se conseguiam obter vitórias nas mais célebres corridas de carros.
O “CD Panhard” foi um dos mais ilustrativos exemplos, de que, com pouco, se consegue obter muito.
Em 1950, em Le Mans, nas 24 horas, um DB Panhard com um boxer bicilindrico, de apenas 600 cm3, obteve um honroso 23º lugar na geral, pilotado por René Bonnet e Ellie Bayol.
No ano seguinte, uma viatura idêntica, classificou-se na 21ª posição ao fim das 24 horas da prova.
No ano de 1952, pelas mãos de Charles Plantivaux, e Robert Chancel, um Panhard Dyna 84, classificou-se na 12ª posição, na frente de viaturas muito mais potentes.
E, em 1956, com a dupla Gerard Larreau e Paul Armagnac, um Panhard conseguiu obter um honroso 10º lugar na geral.
Para além destas excelentes posições na “geral”, os Panhard somaram ao longo dos 50s e dos 60s um invejável número de vitórias na sua classe e, ainda, nos troféus de índices de performance e energético, e nas copas bi-anuais, assim tendo acontecido nos anos de 1954, e de 1956 a 1962.
Convém, de igual forma, relembrar a vitória absoluta, de um Panhard PL17, utilizando este mesmo motor, no Rally de Montecarlo de 1961, pilotado por Maurice Martin/Roger Bateau, sendo os segundo e terceiro lugares da classificação geral, também atribuídos a outros dois Panhard PL 17, consistindo este um dos mais emblemáticos triunfos desta marca.
Para uma viatura com apenas 60 cavalos às 7.000 Rpms, e uma caixa de 4 velocidades, os resultados respectivos não podem deixar de ser a consagração de uma engenharia apurada.
O motor tinha uma configuração do tipo “Boxer”, com dois cilindros horizontalmente opostos, possuindo apenas 702 cm3, refrigerados a ar, colocado num chassis tubular, e, complementado por uma bela carroçaria em fibra de vidro.
Um dos segredos desta máquina situava-se no seu baixo peso, de apenas 548 kgs, e, um outro, consistia nas formas arrojadamente aerodinâmicas da sua carroçaria, em jeito de “gota de água”, que lhe permitia já, à época, ter um “Cx” de apenas 0,12.
Tais características proporcionaram-lhe ascender a velocidades na ordem dos 210 km/h, e nas versões de Rally, de 160 km/hora, havendo mesmo alguns autores que referem que o carro, na famosa “Hunnaudiéres” chegava aos 250 km/h, o que, para a época, eram valores muito acima da sua classe, e próprios de viaturas muito mais potentes.
Recorde-se que o CD Panhard (“CD” de Charles Deutch, por sucessão da “DB” anterior a 1961 de “Deutch et Bonnet”,) detém ainda o “record” de volta no circuito de “Le Mans”, para viaturas de menos de um litro de cilindrada.
Para a posteridade ficará ainda o facto de, o primeiro automóvel a circular em Portugal, se ter tratado de um “Panhard-Levassor”, do Conde de Avilez, em 1895.
Uma derivação deste motor, cuja cilindrada foi aumentada para 849 cm3, o famoso “Tigre”, foi equipar o último dos “Panhard”, o “24 CT”, um 2+2, cujas formas eram claramente futuristas, para os “60s”, com “olhos de sapo” e uma grande superfície vidrada, e, para quem o conheceu...um barulho de motor fora do normal, mas muito performante, tendo a sua produção cessado após a aquisição da fábrica, pela Citröen, em 1967.
Mas, tudo isto nos leva à excelente recordação que a “Le Mans Miniatures” editou, em “slot” dos CD Panhard, que correram em Le Mans, no ano de 1962, com as duplas, André Guilhaudin e Alain Bertaut (#53); Pierre Lelong e Jean-Pierre Haurriod (#54), que desistiu por despiste, e Bernard Boyer e Guy Verrier (#55), que desistiu por avaria no motor, devido a uma regulação da mistura demasiado pobre, tendo assim, apenas o primeiro concluído a prova no 16º lugar da geral, cabendo, no entanto, ao nº53 a vitória no índice de performance, e o 3º lugar no índice de rendimento energético.
As carroçarias são em resina, no famoso “azul francês”, exibindo grande e perfeita pormenorização, desde a luz avisadora exterior para as boxes, aos tampões, às jantes, que são diferentes em cada eixo, aos faróis, e até aos interiores, com uns muito detalhados piloto e tablier de bordo, e volante em três tons, ostentando uma invulgar perfeição, com proporções correctas.
O chassis é, também em resina, possuindo uma bancada do tipo “MRRC”, com um motor tipo “slim line”, também muito utilizados por esta marca, que faz cerca de 21.000 Rpms a 12 V, com pinhão e cremalheira em nylon, que se revela excessivo para este modelo, para além de possuir um fraco poder de travagem.
Os pneus, se bem que muito bem desenhados, são de uma incompreensível dureza, sendo mesmo quase “vidrados”, factor que, aliado ao seu peso considerável em virtude do material da carroçaria e do chassis, torna o slot, praticamente inguiável em piso “Carrera”, por absoluta falta de aderência, e muito saltitante e deslizante, em todos os outros, sendo este um factor a rever, para quem desejar tirar a viatura da prateleira e utilizá-la, sendo assim, de sugerir, a completa substituição dos pneus traseiros por outros mais macios.
Em todo o caso, e para qualquer coleccionador que se preze, este é um slot indispensável, pela sua beleza, pela sua história que nele se encerra, e pela excelência da sua execução.
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