Não tenho fotos, mas histórias para contar.
Nunca fui muito de bicicletas em miudo. Eu bem pedi ,mas o meu pai nunca me deu nenhuma.
Quando os meus miudos tinham 8,10 anos houve a febre das bikes de montanha. Um dia um amigo deles deu um quadro, noutro dia outro uma roda outro as manetes, etc. Juntou-se material para 2 bikes. Toca de pintar, comprar algumas peças, montar e começar a gastar pneus. Uns dias depois um vizinho veio com vários restos para montar uma para o filho. Assim se fez. Sobrou algum material,um quadro com volante,celim, manetes,travôes que ficaram cá, pois ele não as quiz. Digo eu: este é para montar uma para mim. Conforme ía montando vi o que faltava e fui comprando aos poucos. No fim ficou impecável. Fazendo as contas ficou ao dobro do preço de uma nova, só em material comprado. Aros, pneus, cameras de ar, calços de travão, mudanças, sei lá mais o quê. Podia ter comprado uma nova, mas não tinha piada, pois deu-me prazer este restauro, e aprendi alguma coisa durante as + - 3 semanas que estive entretido com ela. Aos 33 anos de idade, foi a minha 1ª ginga, como se dizia em áfrica\moçambique quando lá vivi em miudo. Pintei-a de vermelho e pintei a branco a nova marca dela GINGA.
Uns dias depois de pronta o meu rapaz mais novo furou a dele, e levou a minha para ir a casa de um colega, talvez a 4 klm daqui. Demorou muito a chegar e era noite quando apareceu.
- Pai, a tua bike desapareceu e vim a pé, estava na entrada da casa do Diogo(nunca o conheci) e foi-se. Mesmo com corrente e cadeado levaram-na, disse-me ele, todo aflito e cheio de pena de mim.
Mais pena tive eu dele, de estar tão triste e aflito.
Já lá vão mais de 15 anos e nunca mais a vi.
Foi a ultima ginga que eu tive.
São estes episódios que fazem parte da vida. E vamos ficando mais velhos e só resta recordar.