A vitória anunciada da VW
O Dakar sul-americano começou com uma quase absoluta certeza de que, pela primeira vez, um motor diesel iria triunfar. Se a BMW sempre os usou e a VW fez essa aposta um ano depois de ter regressado ao todo o terreno, 2008 foi o ano da conversão da Mitsubishi que, por isso mesmo se apresentou no Dakar Argentina Chile bem mais debilitada que em anos anteriores onde registava sete triunfos consecutivos, mesmo que no último tenha sido conseguido sem ganhar qualquer etapa.
A pequeníssima probabilidade de essa vitória diesel não acontecer passava por um eventual triunfo de Robby Gordon, um americano que, praticamente por conta própria, tem vindo gradualmente a impor-se na mais dura competição de todo o terreno do mundo e que poderia encontrar nas novas pistas sul americanas um espaço para impor o seu imponente Hummer de duas rodas motrizes.
Todavia a vitória acabou de forma previsível na VW se bem que com De Villiers a ocupar o lugar que estava reservado para Carlos Sainz e com duas particularidades deveras curiosas. Foi a primeira vitória de um piloto africano num pódio que também pela primeira vez não teve a presença de nenhum europeu. Apenas curiosidades porque como ficou demonstrado no terreno nada disso teve a ver com a mudança de África para a América do Sul.
Para além do triunfo merecido da VW na classificação final sobressai um notável resultado d conjunto das Nissan Navara originárias da África do Sul e assistidas pela Overdrive equipa liderada pelo belga Gregoire de Mevius que tiveram um comportamento fenomenal.
As marcas uma a uma
VW
Com uma estrutura logística muito superior a todas as outras equipas o construtor germânico estava impedido de fazer outro resultado que não fosse a vitória. Com um começo mais Rali que TT, Carlos Sainz teve o adversário esperado. Quando Al Attiyah saiu de cena o espanhol somou triunfos até se enfiar num buraco, deitando as culpas para a organização, mas trazendo à memória a sua propensão para falhar à beira da meta, o que nós portugueses já tínhamos visto recentemente no Pax Rally.
Um belo prémio para Giniel de Villiers um super consistente piloto a quem o triunfo assenta como uma luva.
Mark Miller e Dieter Depping cumpriram e o americano soma o seu segundo pódio.
Mitsubishi
Ainda o Dakar não tinha terminado e já havia muita gente a crucificar a equipa nipónica, esquecendo que atrás de si estava um passado com sete triunfos consecutivos e uma necessidade imperiosa de se converter ao diesel. Só se houvesse muito dinheiro é que o construtor japonês se poderia ter dado ao luxo de continuar a correr com os carros a gasolina e continuar paralelamente o desenvolvimento do Racing Lancer. O orçamento da equipa nada tem a ver com o da VW pelo que fez o que tinha a fazer. Perdeu mas a sua participação não foi o desastre que muitos querem fazer crer. Apenas o abandono de Masuoka teve a ver com uma eventual questão de motor. Luc Alphand foi forçado a desistir por uma falha física do seu navegador – um assunto interessante para ser abordado noutra ocasião – enquanto o abandono de Peterhansel começo num acidente nas dunas que afectou o motor.
BMW X-Raid
A equipa com mais carros em prova não é uma verdadeira equipa de fábrica mas tem conseguido dar uma excelente imagem e à sua conta o leque de candidatos às primeiras posições aumenta em função de uma bolsa bem apetrechada. É todavia uma equipa com apenas um solista: Nasser Al Attiyah O piloto do Qatar brilhou enquanto lá andou mas acabou por sair com um problema de motor o que não é muito comum nos BMW. O francês GuerlainChicherit voltou a confirmar que não é consistente para ocupar o segundo lugar na equipa e o local Orlando Terranova teve direito a alguns fogachos mas era quase certo que ia acabar acidentado. Salvou-se o russo Leonid Novitskiy que foi o mais regular e apenas por dois segundo não ganhou a derradeira etapa.
Outros destaques
Robby Gordon (Hummer)
O terceiro lugar de Robby Gordon reflecte uma notória progressão. Falhou por diversas vezes, chegou a capotar mas esteve muito consistente. A acompanhar nas próximas edições do Dakar onde quer que a prova se dispute.
Erik Ivar Tollefsen e Krzysztof Holowczyk (Nissan Navara)
Terminaram na 4ª e na 5ª posição respectivamente. Foram os primeiros privados, bateram-se sempre pelos lugares da frente com uma regularidade impressionante. As suas máquinas iguais àquela com que Pedro Grancha disputa o nacional de TT mostram-se perfeitamente adaptadas as características do terreno.
Miroslav Zapletal (Mitsubishi)
Outro resultado que para além do mérito do piloto se toca com Portugal. A Mitsubishi do checo foi feita para Carlos Sousa e posteriormente passou pelas mãos de Miguel Barbosa. Já venceu etapas do Dakar e continua a permitir excelentes resultados.
Bruce Garland (Isuzu)
Apesar de registar apenas uma anterior participação no Dakar, em 1998, o australiano é uma dos mais experientes pilotos da modalidade, com presença nas mais variadas competições da disciplina. Preparou de forma soberba uma Isuzu D-Max que levou ao 11º lugar.
Nicolas Gibon (Toyota)
Bastante jovem Nicolas Gibon cedo se instalou na liderança da Categoria T2 vencendo de forma convincente e levando o seu Toyota ao 14º lugar
Pela negativa
Buggy’s
Nunca os Buggy estiveram tão mal representados no topo da classificação. Bem razão teve Jean Louis Schlesser em apostar no Africa Race
Guilherme Spinelli e Alexei Berkut (Mitsubishi Pajero Evo)
Dois dos antigos Pajero oficiais passaram quase despercebidos neste Dakar. O do brasileiro ainda andou a lutar pelo Top10 até um acidente ter interrompido a sua corrida. O russo arrastou-se de princípio ao fim
Portugueses
Se Ricardo Leal dos Santos apenas se redimiu com o 11º lugar na etapa do Atacama a participação lusa foi demasiado modesta. Terem todos terminado é do mal o menos.
Sul-americanos
Nem brasileiros, nem argentinos, nem chilenos. Os primeiros com mais experiência de Dakar. Os outros com Terranova, De Gavardo, Eliseo Salazar. Nada. Desportivamente o Dakar passou-lhes ao lado.