No final dos anos sessenta o meu pai comprou o NSU Prinz 1000s por 66 contos mais uns trocos. A matricula era HC-64-29 (um dos craques das matriculas poderá dar indicações precisas quanto ao ano).
O meu pai ganhava muito acima da média pois era responsável de uma empresa sueca que produzia em regime de "draw back"* fardamentos para praticamente todos os exercitos das escandinávia.
A minha mãe era professora primária, ganharia à volta de um conto e picos por mês e não ganhava nas férias até ao final dos anos 60, quando o governo de Marcelo Caetano decidiu começar a pagar aos professores nas férias. Na altura as férias escolares eram de 3 meses....
No final dos anos sessenta o meu pai comprou um terreno numa boa zona e construi uma moradia T5 com dois pisos, gastando 1000 contos no total. Era o preço de um Rolls na época e lembro-me de a minha mãe comentar isso incrédula.
Da gasolina não me recordo do preço mas lembro-me de a minha mãe chegar às bombas e deixar-me dizer ao gasolineiro "99 escudos super!" o que daria para meter uma quantidade razoavel de gasolina e dar 1 escudo de gorjeta.
Para quem gosta destas coisas um post da minha irmã com fotos da época, sobre a empresa sueca no blog do Pacheco Pereira, com um inesperado comentário de um ex aluno da minha mãe que entre outras coisas se recorda do NSU...
http://abrupto.blogspot.com/search?q=suecia
(não está no topo terão de fazer um pequeno skroll down)
Já em 1978 o meu pai teve o primeiro carro de serviço, um Honda Civic dos primeiros, que custou 180 contos e o NSU foi substituido por uma VW Brasilia e vendido por 60 contos. (vou perguntar o preço da Brasilia)
* "draw back"
Importação de toda a matéria prima, tecidos, linhas, fechos, etc, manufactura em Portugal e posterior exportação. Evitava as taxas de importação, chamava-se importação temporária e aproveitava a mão de obra barata. Mesmo assim os suecos pagavam a todo o pessoal muito acima da média e davam muitas regalias (médico, dentista...) o que fazia com que o meu pai fosse confrontado com queixas dos empresários do sector textil que acusavam de estar a estragar o mercado.
Outro aspecto interessante era sem computadores gerir tecidos, linhas, fechos, etc importados e garantir às autoridades alfandegárias que cada botão, metro de tecido ou linha importado saia sob a forma de fardas, mochilas, cartucheiras etc etc .
nuno g