Fiat 1300 e 1500 - História de um 2 em 1

João Luís Soares

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Depois da 2ª Guerra Mundial a Fiat reformulou os modelos que tinha disponíveis no Mercado de forma faseada. Assim surgiram os seguintes modelos nos anos escritos à frente: Fiat 1400 - 1950; Fiat Campagnola - 1951; Fiat 1900 - 1952; Fiat 1100/103 - 1953; Fiat 600 - 1955; Fiat 500 e Fiat 1200 - 1957.

No fim dos anos 50 e princípio dos anos 60 a Fiat faz uma actualização da sua gama de ligeiros de passageiros. Por isso, os Fiat 1400/1900 são substituídos pelos Fiat 1800/2100 (projecto 112) em 1959.

Como é fácil de perceber abriu-se um grande "fosso" entre o Fiat 1100 (e 1200) e o Fiat 1800.

Surgiu assim o projecto 116, entregue ao engenheiro Dante Giacosa (responsável pela grande maioria dos melhores projectos da Fiat). Giacosa tinha a ideia de desenvolver 2 carros sobre a mesma plataforma, mas com motores e carrocerias diferentes. Mas Vittorio Valletta, presidente da Fiat nessa altura, teve uma ideia diferente e, como a última palavra era dele, ficou decidido que seriam lançados 2 modelos com carrocerias e chassis iguais, apenas diferindo na motorização. Assim sendo, o projecto 115 juntou-se ao projecto 116.

Em Abril de 1961 foram apresentados o Fiat 1300 e o Fiat 1500.

O primeiro com um motor de 1295 cc (diâmetro 72 x curso 79.5 mm) que produzia 65 cv - motor 116.000. Atingia os 140 km/h e consumia 8,6 litros de gasolina por cada 100 km.

1300 artigo.jpg

traseira (1300).jpg

O segundo com um motor de 1481 cc (diâmetro 77 x curso 79.5 mm) que produzia 72 cv - motor 115.000. Atingia os 150 km/h e consumia 9 litros de gasolina por cada 100 km.

fiat 1500 artigo.jpg

Como podem reparar, a carroceria apenas se distingue num pequeno pormenor. O Fiat 1500 tem frisos cromados nas molduras dos vidros das portas e o Fiat 1300 não.

Ambos eram motores de 4 cilindros em linha com a taxa de compressão de 8,8:1 e tinham arquitectura OHV (árvore de cames no bloco e válvulas na cabeça do motor).

A desenho da carroceria era inspirado no Chevrolet Corvair.
As dimensões exteriores eram: 4030 mm de comprimento, 1545 mm de largura e 1365 mm de altura, com uma distância entre eixos de 2420 mm.
A tara era de 960 kg e o peso bruto de 1290 kg.

A caixa de 4 velocidades era de comando na coluna de direcção; os travões eram de tambor atrás e de disco na frente.

Em Novembro de 1961, no Salão automóvel de Turim, é apresentada a carrinha da gama, denominada Fiat 1300/1500 Familiare, com os mesmos motores da berlina.

fiat 1300 familiare.jpg

fiat 1500 familiare.jpg


Os Fiat 1300/1500 eram caracterizados por um design avançado em relação a outros Fiat da época e por um maior cuidado nos detalhes interiores - luzes de leitura nos lugares traseiros, tablier de design moderno, porta-luvas fechado, estofos revestidos a napa de boa qualidade em vez de tecido, etc.

Em 1962, com o acordo entre a Fiat e a Polícia italiana para o fornecimento de vários Fiat 1300, o modelo acaba por usufruir de uma inesperada publicidade gratuita...

Durante alguns anos os Fiat 1300 e 1500 tornaram-se a referência para as famílias com algumas posses que precisavam ou podiam ter algo maior que um Fiat 600 ou 1100.

Foram carros muito populares em Itália e, no caso do Fiat 1500, essa popularidade alargou-se à Europa Central, muito por culpa do acordo entre a Fiat e a NSU que permitia produzir estes modelos na Alemanha.

Em Portugal, a pequena diferença de preço fez com que o Fiat 1300 fosse muito menos vendido do que o gémeo de maior cilindrada. Estes modelos tiveram boa implementação no nosso mercado porque devido ao acordo com a Fiat, também eram montados na SOMAVE.

Em 1964 a Fiat achou que era altura de retocar o modelo, mas apenas modificou o Fiat 1500.
O Fiat 1300 permaneceu igual até ao fim da sua produção, em 1966. Talvez porque não valia a pena modificar o desenho, uma vez que o Fiat 124 já estava na calha...
Aproveitando mais uma vez o Salão de Turim, neste caso o de 1964, a Fiat apresentou ao público o Fiat 1500C.

1500C1.jpg
1500C2.jpg
1500C3.jpg

A distância entre eixos passou a ser de 2505 mm e o comprimento aumentou para 4130 mm. O peso aumentou 20 kgs.

A nível de interiores houve poucas mudanças, sendo a principal a alteração do desenho do volante.
Claro que o aumento da distância entre eixos implicou que o espaço para os passageiros do banco de trás melhorasse.

Exteriormente as mudanças foram maiores:
- As letras de designação do modelo (na traseira) sofreram uma actualização de desenho.
- Os farolins traseiros deixaram de ser horizontais e conter apenas as luzes, travão e pisca. Passaram a ser trapezoidais integrando as luzes de marcha-atrás. No local onde antes estavam o bocal do depósito de gasolina (à esquerda) e o farolim de marcha-atrás (à direita), foram colocados reflectores.
- O bocal do depósito de gasolina passou para o lado esquerdo do carro, estando protegido por uma tampa com fechadura.
- Os escudetes dos pára-choques aumentaram de tamanho e passaram a incluir uma protecção em borracha.
- A grelha da frente passou a incluir os farolins de mínimos/pisca. Estes farolins também aumentaram em tamanho.

A nível de mecânica também foram introduzidas alterações:
- Introdução do servofreio para auxiliar a travagem.
- Aumento da taxa de compressão para 9,0:1, com consequente aumento da potência para 75 cv.
- O binário aumentou de 10,8 para 12,5 kg.m
- O consumo aumentou para 9,4 litros por cada 100 km.

As aptidões estradistas deste Fiat eram elogiadas na época quer por revistas quer pelos proprietários. O meu pai lembra-se bem das capacidades dos 4 Fiat 1500 que o meu avô teve.

Ainda hoje essas características são destacadas em artigos das revistas de clássicos e pelos felizes proprietários deste carro intemporal e clássico por direito próprio.

Em 1967 o Fiat 1500 foi substituído por outro grande carro - o Fiat 125 que o Eduardo Relvas retratou muito bem aqui: http://portugal.port...foi-um-sucesso/

Mas a robustez da mecânica deste Fiat continuou a ser provada ao longo dos anos.
Na Polónia, o Polski Fiat 125p, apesar de exteriormente ser baseado no Fiat 125, manteve a mecânica do Fiat 1500C e esteve em produção até 1991.

Aqui perto da Maia há um Fiat 1500C que ainda é o carro de dia-a-dia:

Fiat 1500 (maia).jpg

...e quero que o meu esteja apto a ser utilizado sempre que eu quiser daqui por uns tempos!

Fica aqui uma simples abordagem histórica a este modelo da Fiat que tanto significa para mim.


P.S. As fotos foram tiradas de pesquisas no google, excepto a 2ª foto (traseira do Fiat 1300) que foi tirada pelo Nuno Granja. Peço desculpa se os autores das fotos se sentirem prejudicados.
 
Última edição:

Paulo Sergio Carvalho

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Muito bom,não sabia que o design do 1300/1500 era inspirado no Chevrolet mas sempre achei que tinha pinta de Americano,gostei da 1300 Familiare
Obrigado pela partilha a maquina bem que merece tal divulgação
Abraço
 

Eduardo Relvas

fiat124sport
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Muito bom, mais um modelo histórico da Fiat retratado ao detalhe!

Acrescente-se que o projecto seguiu em paralelo aos 112/114, que originaram os 1800/2100, cuja mecânica era em muito partilhada com estes modelos. Foi das primeiras vezes na história automóvel em que se criaram modelos com esta modularidade.

Os motores de 6 cilindros dos 1800 eram grandemente comuns com o 1300, e o 2100 com o 1500, e todo o desenho básico do motor era exactamente o mesmo. Já o introduzi no tópico do meu 2100, mas é um motor bastante acima da média, e que foi um dos grandes trabalhos do mestre Lampredi. Tem câmaras de combustão polisféricas, que são uma adaptação do layout hemisférico a um motor de came no bloco e balanceiros, que dá um bom rendimento ao motor sem complicar demasiado a geometria da cabeça.

Há muitos modelos derivados desta base, mas já sei que essa informação está na calha... aguardamos! ;)

Um abraço!
 
OP
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João Luís Soares

João Luís Soares

Pre-War
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Portalista
Muito bom, mais um modelo histórico da Fiat retratado ao detalhe!

Acrescente-se que o projecto seguiu em paralelo aos 112/114, que originaram os 1800/2100, cuja mecânica era em muito partilhada com estes modelos. Foi das primeiras vezes na história automóvel em que se criaram modelos com esta modularidade.

Os motores de 6 cilindros dos 1800 eram grandemente comuns com o 1300, e o 2100 com o 1500, e todo o desenho básico do motor era exactamente o mesmo. Já o introduzi no tópico do meu 2100, mas é um motor bastante acima da média, e que foi um dos grandes trabalhos do mestre Lampredi. Tem câmaras de combustão polisféricas, que são uma adaptação do layout hemisférico a um motor de came no bloco e balanceiros, que dá um bom rendimento ao motor sem complicar demasiado a geometria da cabeça.

Há muitos modelos derivados desta base, mas já sei que essa informação está na calha... aguardamos! ;)

Um abraço!

Obrigado pelo complemento!

Quanto aos derivados... hei-de cá voltar um dias destes.

Só de pensar em OSCA, já estou a sonhar...
 

Rafael S Marques

Pre-War
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Não é de família, é dum amigo, comprou-o para restauro mas só lho pus a trabalhar...
 

Eduardo Relvas

fiat124sport
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Sim, eu não referi o 2300, porque o projecto inicial era com os 1800 e 2100, mas quando a série evoluíu, o 2100 passou a 2300. O projecto de base era o mesmo, embora o visual seja levemente alterado, e o motor não é mais que uma progressão natural da mesma unidade da série anterior.

2300, ou qualquer um dos outros modelos de 6 cilindros, são bichos muito raros, seja onde for. Até em Itália não é comum aparecerem, quanto mais em Portugal.

Esse em que trabalhaste era um Berlina, Rafael? Eu já vi foi um 2300 Coupé (não S, logo tem o motor igual à Berlina) em Castelo Branco.

Um abraço!
 
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